Relendo e revivendo EUGÉNIO DE ANDRADE
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio,
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
Gastámos as mãos à força de as apertarmos,
Gastámos o relógio e as paredes das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tinhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava, mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes
e eu acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inutil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Poema ADEUS
de Eugénio de Andrade
Imagem encontrada na net
18 comentários:
Que texto soberbo!
Beijos, querida, ótimo domingo!
oh, es un poema muy fuerte!
un beso, que disfrutes una excelente semana!
Olá Baby!
Antes só de "mutmurar o teu nome"
tudo acontecia,hoje grito o teu nome bem alto e nada acontece.
O passado junto com o tempo nos condena.
beijos vizinha,
José.
Porque tantas vezes pensamos que chegou o fim? precisamos entender que não decidimos nossas vidas, tudo já está escrito e definido quando nascemos, só dificultamos as coisas, impedindo que aconteçam, com normas, regras, primcipios, e sentimentos impuros, nosso coração só quer amar, só deseja fazer outro feliz,,, deixe-se levar pelos sentimentos suaves, como águas tranqüilas, com sons de chuva fina, com canto de pássaros, aceitando o doce toque da brisa, feche os olhos e sonhe, depois abrace sorria e toque o sonho com mão amorosas, veja: és feliz tocas-te - o amor.
beijosss
Oi Baby!
Lindo poema! Fantástico transmitir o fim de um relacionamento com palavras tão belas... Tens excelente gosto! Parabéns!
Obrigado pelo carinho no meu espaço. Será sempre bem vinda!
Beijo,
Thiago
E se as palavras gastas desgatasse com elas os sentimentos...mas não , é o silencio que se faz de pausa pra sentir mais..né!
Tão bonito menina esse poema, um pra amar além das palavras...
Meu beijo a ti.
Erikah
Nunca se gastam as palavras de Eugénio de Andrade!
Obrigada, Baby!
Um beijinho com amizade.
As palavras nunca ficarão gastas para dizer: lindo poema.
Beijinhos
É quando a palavra "adeus" percorre os labirintos do vazio e certifica-se da inevitável dor em reconhecer que todas as portas se fecharam. O amor gastou-se.
Engénio de Andrade é simplesmente maravilhoso!
Beijos, minha querida Baby!
Inês
Palavras sempre renovadas, estas do Eugénio de Andrade - poema que ganhou uma voz especial quando foi musicado. Obrigado pela lembrança!
Beijinho,
Chris
Este poema é um dos que eu gosto mais do Poeta.
Fizeste uma excelente escolha, por isso.
Querida amiga, bom resto de semana.
Um beijo.
Senti sua falta, não conseguimos acabar a conversa... queria desejar sucessos e alegrias pra aquele dia; Venho aqui ouvir tuas musicas quando tenho tempo, perceba nas estatísticas,rs, rs, tens bom gosto, alias tens mesmo bom gosto, suas cerâmicas( ou porcelana, como diz as pinturas) são esplendorosas, post aqui, todos irão aplaudir, existem possibilidades de venda? boa e linda noite amiga, beijinhos.
Olá, amiga!
Está preparada para o dia 12 (creio)?
Lá estarei para apoiar os 5 poetas.
Beijinho
Este poema é... soberbo! Lindo!
Beijito.
Uma escolha com gosto, merece um beijo com aroma de pitanga daquelas que deixamos para traz.
Gastam-se as palavras mas não as recordações.
Bjos
Quando os peixes eram verdes nossos sonhos era azuis...
Abraço
Olá Baby!
Estou passando só para desejar bom dia, à minha vizinha.
E deixar um beijinho,
José.
Enviar um comentário