terça-feira, agosto 25, 2009

PENSAMENTOS

Timidez
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.
Cecília Meireles
Foto tirada da net

quarta-feira, agosto 12, 2009

FLORESTA DE PALAVRAS

Quando desembarquei da minha viagem sem destino certo, deparei com um lugar sem nome, onde o ar era de tal modo rarefeito que me sufocava lentamente e o céu tinha uma cor indefenida
que aos poucos se ia tornando cor de sangue, o mesmo sangue que do meu coração vazava, ferido pelas dores que dia após dia eu sofria, enquanto ia perdendo um ente muito querido.
Agora quero que o meu pensamento se liberte e voe alto, muito alto, se inunde de beleza e tranquilidade e depois mergulhe em voo picado numa floresta densa, feita de pavras.

"Entrei pelas palavras como quem entra numa floresta densa à procura de espécies raras;
escolhia umas, afastava outras, mas algumas que escolhia, logo deitava fora, tão anónimas e sem carácter se mostravam depois. Às escondidas ia-as pondo juntas umas às outras, ora cruzadas, ora paralelas, como quem faz um muro e prefere umas pedras às outras para as casar conforme o volume e o ângulo delas.
Pouco a pouco fui encontrando ao acasol (ao acaso?),como numa revelação misteriosa, palavras raras, preciosas, brilhantes ou sombrias, umas ricas, outras pobres, sonoras ou mudas, mas todas intimamente ligadas por qualquer laço comum, como se entre elas houvesse uma predestinação ou qualquer liame invisível que as prendesse. E logo que as juntava ficavam tão unidas umas às outras que já não parecia mais possível desligá-las, tão estranhamente fundidas que cada uma perdia aquilo que antes a distinguia, para todas encontrarem nessa transmutação uma nova expressão, feita de sons, a princípio vagos, sussurrantes como num búzio, mas logo depois tomando formas musicais, ainda que entrecortadas e incompletas como os instrumentos que os músicos afinam antes de a orquestra começar um concerto.
Às vezes, caprichosamente, uma ou outra palavra fugia, escondia-se no grande cemitério das palavras mortas; e era preciso procurá-la, adivinhá-la, encontrá-la e pô-la no seu lugar próprio, ainda vazio, que só a ela pertencia. Era preciso procurá-la amorosamente, como o garimpeiro nas águas do rio busca a pepita refulgente. E assim, na densa floresta das palavras, pude escolher essa matéria prima a que o sonho deu a transcendência da criação da própria vida."
in Pablo La Noche - Marcello Matias
Imagem da net.

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