Esta noite choveu no deserto que albergo no meu peito
e uma enxurrada varreu meus grãos de areia
pela encosta abaixo do meu corpo
abrindo sulcos obscenos, de uma beleza proibida
e as águas que por eles escorriam
em rio caudaloso se tornaram
arrastando consigo amores que o tempo já esquecera,
dores e alegrias, versos que escrevi,
palavras que guardei e que roubara nos livros que já lera
e erros, tantos erros em que teimosamente persisti,
as respostas que não dei e as perguntas que não fiz,
o choro que na tristeza não chorei,
e os risos que por falta de alegria não soltei.
De todas essas coisas me desfiz.
E nessas águas, que depois da queda se amansaram
eu me deixei afogar,
pois num deserto sem areia
pois num deserto sem areia
o sol nunca mais volta a brilhar.
Imagem colhida na net