domingo, novembro 24, 2013

AS PALAVRAS


de Eugénio de Andrade:

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho, apenas.

Secretas, vêm, cheias de memória.
Inseguras, navegam:
barcos ou beijos, as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem 
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Imagem colhida net


quarta-feira, outubro 30, 2013

DE SAUDADES E DE VIDA


DE SAUDADES E DE VIDA

Tenho saudades da vida
Da vida que me perdeu
Ou que em mim andou perdida
Rasgando-me o corpo e a alma
Em busca de uma saída.
Deixou-me uma cratera no peito
Onde me escondo ao deitar
Num leito feito de sombras
Por onde passam lembranças
Que eu teimo em não recordar.
Há um perfume de ternura
de um amor que não vingou
há palavras decepadas
num verso que não  rimou.
E há a saudade que morde
Com um toque de amargura.


Imagem obtida na net

terça-feira, junho 18, 2013

O MAR POR COMPANHIA



O MAR POR COMPANHIA

Tinha o mar por companhia
e o céu como horizonte.
Estava aberta aos sons cadenciados e ondulantes
das vagas altas que aos meus pés morriam
e os meus sentidos despertavam
quando a espuma branca me tocava
e a pele me estremecia.

Tinha ânsia de partir
e uma vontade escondida de ficar
na esperança que voltasses
atraído pelo cheiro desta saudade rasgada
que no meu peito ficou
depois da tua partida.

Oiço o grito derradeiro
que uma gaivota desenha
no seu voo solitário
riscando o sol que mergulha
e num mar de luz se apaga
enquanto a tua imagem
se acende em mim
como um braseiro. 


Imagem colhida na net

segunda-feira, maio 13, 2013

PROMESSA


PROMESSA


Prometi
que ia esvaziar-me,
arrancar do peito
o desespero, a raiva, a dor que mata,
mas também a indiferença e o torpor,
o nada, que dia a dia se agiganta
e me estrangula como um garrote abrasador.

Prometi
que ia pegar numa caneta
e desenhar mil gotas de água
que me escorressem pelos dedos
como chuva abençoada,
esborratando o traço,
mas apagando do meu chão os medos.

E que depois os versos
brotariam como flores
com as cores da primavera,
e o poema nasceria,
letra a letra,  
feito de quimera e voaria,
como pássaro fugido da gaiola.

segunda-feira, janeiro 28, 2013



AUSÊNCIA



Apartada dos meus sonhos
E dos teus olhos ausente,
Perdi o amor pelas palavras
Que eu usava como espada
Ou como bandeira hasteada,
Mas sempre como semente.


Com elas fazia versos
Cantando os risos e as dores
E a transparência do amor.
Falava do rio que eu era
E do barco à vela que foste,
P'ra me poder navegar.

Abriste sulcos tão fundos
Nas águas do meu sentir
Que a minha voz se partia
E o meu coração sangrava
Sempre que neles caía
Sem vontade de emergir.

Emudeci no poema
Perdi o brilho no olhar.
De rio, passei a deserto
Que percorro devagar
Escalando cada duna
Na ânsia de ver o mar.

Rosas

Rosas
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