quinta-feira, outubro 04, 2012

PARTIDA



Vi-te partir
e a seguir
o sol caiu a meus pés,
o céu rasgou-se
e chorou
até apagar o fogo
que alastrou pelo chão.
Depois o mar engrossou,
rugiu e a terra galgou
para varrer toda a dor
Que a tragédia provocou.

Fui levada e arrastada
quando a onda regressou.

Andei vidas à deriva,
fui barco sem vela no mar,
mar que foi onda,
mas também foi chão,
mar que me embalou
e ajudado pelo tempo,
as minhas feridas sarou,
mar que um dia,
noutra onda,
em terras de Barlavento
eu sei que me vai largar.

quinta-feira, setembro 20, 2012

PARA QUEM GOSTA DE AZUL


Dizem que o azul é uma cor fria, mas a mim inflama-me a imaginação, ao mesmo tempo que me repousa a alma...difícil de entender?

Para quem quiser tê-lo sempre à mão, partilho convosco uma receita de
NUNO JÚDICE
"In Meditação sobre ruínas, 1995"


RECEITA PARA FAZER O AZUL

Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo do metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz__eu, Abraão bem Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé___e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.

quinta-feira, agosto 30, 2012

LUAR DE AGOSTO


As águas da ribeira eram uma esteira de prata
deslizando suavemente para o mar
que pressuroso as absorveu
na ânsia de aumentar o brilho com que o luar de agosto o vestia.
Os meus olhos diluíam-se ao contemplar aquela beleza cintilante
e o muro que me aprisionava desmoronava-se  pedra a pedra
enquanto uma indescritível sensação de paz me envolvia
e me fazia sentir que também eu era um fio de água
percorrendo o seu curso inexorável em direcção ao mar
onde tudo começou e onde tudo pode sempre terminar.

terça-feira, junho 12, 2012

COMO UM FADO

Entraste em minha vida
como um fado que se cumpre. 

Como um rio que chega ao mar,
em ondas sucessivas me tomaste
e aos meus pés ergueste a tua casa
e em mim ficaste.

Imagem da web

segunda-feira, maio 21, 2012

OS TEUS OLHOS





É pelos teus olhos
que eu entro
e num canto vazio
de ti
tomo lugar
e me sento.


Imagem colhida na web

domingo, abril 29, 2012

SONHOS

Sem sonhos,
os monstros que nos assediam,
estejam eles alojados em nossa mente,ou no terreno social,
nos controlarão.

O objectivo fundamental dos sonhos não é o sucesso,
mas nos livrar do fantasma do conformismo.

Quem não é generoso consigo mesmo
jamais o será com os outros.
Quem cobra muito de si mesmo
é um carrasco dos outros.

A generosidade é um dos maiores sonhos
que devemos difundir
no grande "caos social".

Só dorme bem
quem aprende primeiramente
a repousar dentro de si.

É possível fugir dos monstros de fora,
mas não dos que temos dentro da mente.

Os que vendem sonhos
são como o vento:
você ouve a sua voz,
mas não sabe de onde ele vem
e nem para onde vai.

Se  quiserem vender o sonho da solidariedade
terão de aprender a enxergar as lágrimas choradas,
as angústias nunca verbalizadas,
os temores que nunca contraíram
os músculos da face.

Citações do livro "O VENDEDOR DE SONHOS"
de Augusto Cury
Imagem da net

domingo, abril 15, 2012

SILÊNCIO


Porque tudo o que sonhei
se quebrou em querelas
e guerras sem sentido,
porque os caminhos percorridos
são hoje pertença de fantasmas
deambulando na penumbra
do dia amanhecido,
porque as coisas que vivi
se apagaram uma a uma
varridas da memória
num  esquecimento encomendado,
sou agora e apenas, uma sombra 
em busca da palavra amarga ou doce
que defina o porquê
do silêncio dos meus dias.


Imagem de MARIAH-(Olhares)

quarta-feira, março 21, 2012

DIA DA POESIA

Escrevo  amor
e leio um sorriso
no céu da tua boca


Soletro pri ma ve ra
e vejo um imenso campo verde
semeado nos teus olhos


Digo pão
e em cada letra arde um abraço
no fogo da paixão


Sento-me na sombra do teu chão
e bebo o  azul
filtrado pelo sol do meio dia


Pego numa asa do vento
e voo com ela
até ao infinito


Escrevo a palavra poesia
e sou um barco à vela que corta  o mar ao meio
e se esfuma no tempo que é finito.

Foto da net

quinta-feira, março 08, 2012

PARA NÓS, MULHERES

De uma amiga, recebi este poema lindo e tomei a liberdade de o partilhar com todas as mulheres, que, como eu, se sentem hoje mais leves e lindas.


Ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie
de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternura e escove
a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração estouvado,
saia do quintal
de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para
quem passe debaixo da sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos
e beba licor de contos de fada.
Ande como se o chão estivesse repleto 
de sons de flauta
e do céu descesse uma névoa de borboletas
cada qual trazendo uma pérola falante
a dizer frases subtis
e palavras de galanteria,

Artur da Távola

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

NEM EU SEI



Tenho o nome duma flor
quando me chamas.
Quando me tocas,
nem eu sei
se sou água, rapariga,
ou algum pomar que atravessei.
Eugénio de Andrade
Foto da net

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

BAILARINA


POR DELICADEZA

Bailarina fui
Mas nunca dansei*
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dansei* no avesso
Do tempo bailado

Dansarina* fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado

Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei

Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:

"Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida"

Poema  POR DELICADEZA in O Nome das coisas
* sic
De Sophia de Mello Breyner Andresen



terça-feira, janeiro 17, 2012

AS CORES DA VIDA

Eu quero que a vida seja 
sempre azul, verde a amarela.

Azul,
quando de manhã bem cedo
eu abro a minha janela.

Verde,
quando eu inspiro
e sinto o cheiro molhado da terra.

Amarela,
quando o sol se acende
e a vida canta vitória.

Foto encontrada na net.

terça-feira, janeiro 03, 2012

DIZ-ME O TEU NOME



Diz-me o teu nome - agora que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão


com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol de neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo ao ouvido,


como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o


nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.


Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.

Maria do Rosário Pedreira

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