sábado, junho 26, 2010

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.


No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.


Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.


Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.


Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha

Eugénio de Andrade

Foto encontrada na web.

terça-feira, junho 15, 2010

CASULO

Abro as portas ao silêncio
Para calar os gritos que não solto,
Para diluir as lágrimas que não choro
E que inundam a transparência líquida dos meus olhos.

Navego então na solidão do meu vazio
Surda aos sons abafados pelo nada,
Cega às cores que fluem, transitórias,
Fechada às lembranças que me assolam
No frio cortante de cada madrugada.

E fico assim, fechada num casulo,
Esperando ganhar asas
Quando um vento, por destino, aqui passar
E num gesto solidário me empurrar
Deixando-me a navegar de novo
No mar aberto dos sentidos.

Foto encontrada aqui  http://www.h2art.com.br/portfolio/3d/casulo02.jpg

terça-feira, junho 08, 2010

DUNAS



Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.


Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano, desolado,
E pergunto porquê, porque razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão.

Miguel Torga

Imagem da web

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Rosas

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