sábado, dezembro 10, 2011
quinta-feira, novembro 17, 2011
MULHER
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A MULHER
Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.
O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.
O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
Eugénio de Andrade
Imagem recolhida na net
quinta-feira, novembro 10, 2011
AMARGURA
Canção amarga
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
- Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.
Agora, tu, só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.
Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
- Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!
David Mourão-Ferreira in "A Secreta viagem"
Imagem colhida na net
terça-feira, outubro 25, 2011
ENXURRADA
Esta noite choveu no deserto que albergo no meu peito
e uma enxurrada varreu meus grãos de areia
pela encosta abaixo do meu corpo
abrindo sulcos obscenos, de uma beleza proibida
e as águas que por eles escorriam
em rio caudaloso se tornaram
arrastando consigo amores que o tempo já esquecera,
dores e alegrias, versos que escrevi,
palavras que guardei e que roubara nos livros que já lera
e erros, tantos erros em que teimosamente persisti,
as respostas que não dei e as perguntas que não fiz,
o choro que na tristeza não chorei,
e os risos que por falta de alegria não soltei.
De todas essas coisas me desfiz.
E nessas águas, que depois da queda se amansaram
eu me deixei afogar,
pois num deserto sem areia
pois num deserto sem areia
o sol nunca mais volta a brilhar.
Imagem colhida na net
segunda-feira, outubro 10, 2011
quinta-feira, setembro 22, 2011
FUGA
É na garganta
que as palavras se atropelam
e as perguntas se debatem
na ânsia de ser feitas,
é lá que tudo se enovela
e um nó de muitas pontas se agiganta
me toma por inteiro e me sufoca
Sorvendo o ar em goles diminutos
mergulho no caos da incerteza
e busco a minha essência
num regresso às origens mais profundas
que procuro sem cessar nas escuras águas
da minha inconsciência.
Sou de novo um embrião
que busca nesse fluido acolhedor
o calor e a segurança que a vida me roubou.
E adormeço, sentindo que sou parte dessa água
onde flutuo, e que o tempo já vivido
não passa de uma sombra que se esfuma.
Imagem colhida na net
segunda-feira, julho 25, 2011
NAS CURVAS DO POEMA
Nas curvas do poema
o amor insinua-se como a luz da lua
e desliza nas palavras
até chegar ao novo verso
que por ser novo se entrega por inteiro
nas mãos do poeta controverso
que ora o enfeita com as cores da aurora
ora o faz triste como uma manhã de nevoeiro
Nas curvas do poema
cabem palavras como o azul do mar
e o barco verde que o navega
cabem o céu e os pássaros que lá moram
também o sol e a luz que nos aquece
o rio que lava a terra da desgraça
a noite negra que antecede o dia
o vento que sopra e nos devassa
a mulher que chora porque a vida a ludibria
e a flor que morre para que o fruto nasça.
Imagem colhida na net
o amor insinua-se como a luz da lua
e desliza nas palavras
até chegar ao novo verso
que por ser novo se entrega por inteiro
nas mãos do poeta controverso
que ora o enfeita com as cores da aurora
ora o faz triste como uma manhã de nevoeiro
Nas curvas do poema
cabem palavras como o azul do mar
e o barco verde que o navega
cabem o céu e os pássaros que lá moram
também o sol e a luz que nos aquece
o rio que lava a terra da desgraça
a noite negra que antecede o dia
o vento que sopra e nos devassa
a mulher que chora porque a vida a ludibria
e a flor que morre para que o fruto nasça.
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terça-feira, julho 12, 2011
sábado, junho 25, 2011
SILÊNCIO E SOMBRA
O Silêncio
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"
Imagem colhida na net
sexta-feira, junho 10, 2011
COMO ASAS
Quando eu morrer
Quando eu morrer,não digas a ninguém que foi por ti.
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis
que alagámos de beijos quando eram outras horas
nos relógios do mundo e não havia ainda quem soubesse
de nós; e leva-o depois para junto do mar, onde possa
ser apenas mais um poema - como esses que eu escrevia
assim que a madrugada se encostava aos vidros e eu
tinha medo de me deitar só com a tua sombra. Deixa
que nos meus braços pousem então as aves (que, como eu,
trazem entre as penas a saudades de um verão carregado
de paixões). E planta à minha volta uma fiada de rosas
brancas que chamem pelas abelhas, e um cordão de árvores
que perfurem a noite - porque a morte deve ser clara
como o sal na bainha das ondas, e a cegueira sempre
me assustou (e eu já ceguei de amor, mas não contes
a ninguém que foi por ti). Quando eu morrer, deixa-me
a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem
toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me
que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois
os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar
para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando
na poeira, cuidará que são flores que o vento despiu, estrelas
que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol,
ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.
M.do Rosário Pedreira
Imagem encontrada na net
sexta-feira, junho 03, 2011
MEMÓRIAS VELADAS
PAIRA DESOLADO UM VÉU
Paira desolado um véu de nuvens,
ao declinar da chama que morre pelas tardes.
Acendem-se devagar os ecos do passado,
o lume cortante do hábil sílex transitório,
desde os nossos tetravós da terra rigorosa.
O coar do dia acresce um dízimo fio de água
vindo do mais remoto das profundezas,
para mitigar a nossa sede,
as nossas quotidianas esperanças
noutros esplendores azuis de céus e estrelas.
Mas é tarde para a repetida veleidade
dos vencidos.
Para que são estas quotidianas memórias
senão para acender outras distantes estrelas
e entender o efémero do presente?
Para que é o esplendor de céus azuis
senão para prolongar a eternidade
da luz, escorrendo sobre nós?
E ao declinar da tarde, despimo-nos da fé.
Já não é possível olhar o céu de ontem.
Os nossos filhos também aprendem devagar
com a última passagem dum corpo
sobre a terra.
Poema de VIEIRA CALADO
no livro POR DETRÁS DAS PALAVRAS
Etiquetas:
chama sede,
memória,
véu
segunda-feira, maio 16, 2011
MANHÃ EM TONS DE VERDE
Na quietude do verde
onde o meu olhar se alonga,
reinvento a paz perfeita
e nela me envolvo
enquanto sonho o teu regresso.
Oiço o doce trinado do melro
e vislumbro o adejar belíssimo
de uma borboleta amarela
que inebriada pelo sol
voluteia, solta, como poalha dourada.
Uma brisa leve traz-me o aroma das rosas
que se abrem sob o calor morno que as acaricia.
A manhã é uma mistura subtil
de sons e cores,
o meu pensamento corre pela vereda
velada pelas sombras
e pintalgada pelas flores de Maio.
O tempo é como um pássaro sem asas,
permanece, quieto, sob a luz filtrada pelas folhas.
Ao longe
o rumor dos teus passos
rompe o meu torpor
e a promessa dum abraço
acende-me as veias,
lentamente.
foto encontrada na net
sexta-feira, março 04, 2011
O TEMPO JÁ VENCIDO
A Voz
Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido
os dedos que me
vogam
nos cabelos
e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.
Maria Teresa Horta
Imagem colhida na net
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
ESTILHAÇOS
Um som surdo e triste
ecoa na tarde que finda, melancólica.
É o grito de morte
de um sonho que se estilhaça
e se transforma em mil pedaços rutilantes
quando os últimos raios de sol se passeiam
pela paisagem quieta e bucólica.
Subitamente um bater de asas
e um pássaro verde e amarelo
risca o céu escurecido
e num voo embriagado
desaparece numa nuvem
de um resplandecente tom dourado.
A noite chega indecisa
E o silêncio fecha tudo à sua volta.
Fotografia de Daniel de Granville
encontrada na web
domingo, janeiro 30, 2011
FICA
Não partas já.Fica até onde a noite se dobra
para o lado da cama e o silêncio recorta
as margens do tempo.É aí que os livros
começam devagar e as cores nos cegam
e as mãos fazem de norte na viagem.Parte apenas
quando amanhã se ferir nos espelhos do quarto
em estilhaços de luz;e um feixe de poeiras
rasgar as janelas como uma ave desabrida.
Alguém murmurará então o teu nome,vagamente,
como a gastar os dedos na derradeira página.
E então,sim,parte,para que outra história se
invente mais tarde,quando os pássaros gritarem
à primeira lua e os gatos se deitarem sobre
o muro,de olhos acesos,fingindo que perguntam.
Maria do Rosário Pedreira
Foto da web
domingo, janeiro 23, 2011
quinta-feira, janeiro 13, 2011
COMO UM BARCO NA TORMENTA
O meu amor é como um barco na tormenta
tanto busca o absoluto
na crista da mais alta onda
como mergulha no negrume
dum mundo feito de silêncio e sombra.
Mas lá no fundo desse mundo
há peixes coloridos e muitos, muitos limos
e no meio desses limos,
o mar é mais verde e mais fecundo
e é lá que eu vou ficar
à espera de sonhar...
sonhar que sou um lindo peixe verde
com um brilho luminoso no olhar
e no peito uma vontade imensa de acreditar.
Imagem encontrada na net
tanto busca o absoluto
na crista da mais alta onda
como mergulha no negrume
dum mundo feito de silêncio e sombra.
Mas lá no fundo desse mundo
há peixes coloridos e muitos, muitos limos
e no meio desses limos,
o mar é mais verde e mais fecundo
e é lá que eu vou ficar
à espera de sonhar...
sonhar que sou um lindo peixe verde
com um brilho luminoso no olhar
e no peito uma vontade imensa de acreditar.
Imagem encontrada na net
quarta-feira, janeiro 05, 2011
RECOMEÇO
Neste começo de 2011, em que nos são vaticinadas tantas dificuldades, nada melhor que este belo poema de Miguel Torga, para nos incutir um pouco de ânimo e esperança!
Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
Imagem encontrada net.
Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
Imagem encontrada net.
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